sexta-feira, 29 de junho de 2007

Livro oficial de Cristiano Ronaldo é apresentado no dia 7

"Momentos" para apreciar


"Momentos" é o título do livro de Cristiano Ronaldo, que será apresentado no próximo dia 7, no Hotel D. Pedro, em Lisboa, em exclusivo para os órgãos da Comunicação Social.O livro, produzido pela editora Ideias & Rumos, de Pedro Paradela de Abreu, foi escrito pela jornalista Manuela Brandão e é ilustrado com fotografias do fotojornalista Jorge Monteiro (ambos da Gestifute Media). O prefácio foi escrito por Bobby Charlton, figura emblemática do Manchester United e também do futebol mundial.A obra, de 176 páginas, não é uma biografia, antes pretende dar a conhecer algumas histórias já vividas pela estrela do Manchester United, aliás a exemplo do que o título do livro sugere. "Momentos" estará nas bancas de todo o país a meio da próxima semana e a versão inglesa será lançada este Verão, em data a anunciar futuramente.A Gestifute Media inicia hoje a pré-publicação do livro, revelando, diariamente, excertos do conteúdo da obra, que estará à venda na próxima semana. Hoje apresentámos alguns extractos do primeiro capítulo do livro.


"Timor, 2005


O avião tinha acabado de tocar o solo da pista do Aeroporto de Comoro, em Díli. Espreitei pela janela e o que vi deixou-me boquiaberto. Uma pequena multidão aguardava, pacientemente, a minha chegada, com máquinas fotográficas ou câmaras de filmar numa mão e pedaços de papel em branco ou posters de boas-vindas na outra. Foi impressionante, mas nada que se comparasse com o que me esperava no resto do dia que passei na capital de Timor-Leste. As ruas encheram-se de um mar de gente. Todos para me verem, para me acenarem, para obterem um sorriso, uma saudação, uma palavra, um autógrafo, uma fotografia minha. Emocionei-me. Fiquei impressionado com o interesse de todo aquele povo por mim. […]


[...] Fomos para o estádio. Presenciei algo como nunca tinha imaginado: mais de 20 mil pessoas à minha espera, a gritarem por mim. Senti uma grande emoção e, ao mesmo tempo, um pouco de receio. Mas Xanana Gusmão não estava a mentir: escoltou-me, vestiu ele próprio a pele de segurança e abriu caminho para eu passar, esforçando-se por convencer os timorenses a afastarem-se para eu entrar no recinto. Os polícias, contagiados pela multidão, tiravam fotografias!… Foi difícil, mas conseguimos subir até à tribuna do estádio. Um verdadeiro delírio. Xanana Gusmão foi o primeiro a dirigir-se à multidão. Pediu calma e alertou para os perigos de uma tragédia se a multidão não se contivesse, numa tentativa de serenar a euforia. Quando chegou a minha vez de falar, agradeci, do fundo do coração, as honras de estado que tinha recebido, o carinho, o apoio, o amor que senti durante aquele memorável dia. […] A minha professora do quinto ano também teria ficado surpreendida se tivesse assistido àquele episódio. E hoje não posso deixar de sorrir quando recordo a preocupação dela sempre que me via chegar à aula – algumas vezes atrasado... – com a bola na mão. "Ronaldo, larga a bola", dizia uma e outra vez. "A bola não te vai dar de comer. Não faltes às aulas, porque a escola é que é importante para ti e não a bola, que não te vai dar nada na vida". Estava a entrar no avião em Dili e lembrei-me destas suas palavras. A vida é uma caixinha de surpresas. Na altura ouvia e não ligava. Mas hoje percebo-a. E, apesar de ela ainda continuar a dizer à minha mãe e à minha tia que nunca mais vai fazer este tipo de comentário com nenhum aluno, acho que ela fez bem e que deve manter a sua pedagogia. Fez o seu papel de docente e foi um bom conselho, porque nunca se sabe o dia de amanhã. Eu é que nunca lhe dei ouvidos." […]


"Brincar com a bola para aliviar a pressão


[…] Os mimos que dou à bola e o gosto por me entreter a fazer malabarismos são mais fortes do que eu. Fazia-o quando jogava na rua, continuei a fazê-lo ao longo de todo a minha formação e ainda o faço. E assim há-de continuar a ser. Porque esse é que é o verdadeiro Cristiano Ronaldo. Acredito que quando as pessoas me vêem no relvado a brincar com a bola, antes do início do período de aquecimento, possam ser tentadas a pensar que se trata de uma operação de charme ou de um acto exibicionista. Está enganado quem pensa assim […]


[…] Antes dos jogos – seja do clube seja da selecção – tenho sempre o mesmo cerimonial. Assim que o treinador divulga a constituição da equipa, vou imediatamente para o balneário e começo a dar toques na bola. Saímos para o aquecimento e enquanto não começam os exercícios físicos dou continuidade às minhas habilidades. Pego na bola, passo-a debaixo de um pé, depois do outro, elevo-a, acaricio-a, enfim, divirto-me com ela. Faço-o por puro prazer, mas há ainda outra razão: quebrar qualquer stress que me possa atacar antes de começar qualquer encontro. Os meus companheiros, quer sejam do clube quer sejam da selecção nacional portuguesa, podem atestá-lo, porque já me conhecem bem. É a minha forma de desanuviar, de afastar a pressão do jogo, de me tranquilizar, de serenar, de descomprimir." […]"Banda Aceh, MartunisAs imagens que foram passando nas televisões sobre a tragédia do Tsunami ocorrido na Ásia a 26 de Dezembro de 2004 deixaram-me horrorizado. De um momento para o outro, vários países do Indico foram assolados por ondas gigantescas, provocando um rastro absurdo de devastação e, mais dramático ainda, quase 280 mil mortos e milhares de desaparecidos. A Indonésia foi o país que mais sofreu com o desastre. Seis meses depois desta catástrofe, estive lá. […]


[…] O que encontrei foram pessoas de grande coragem e com grande vontade de viver, empenhadas em construir o futuro e em enterrar o passado, em reconstruir os seus locais de habitação, porque em termos emocionais é impossível a quem os viveu esquecer todos os momentos do tsunami e tudo o que a ele se seguiu. Um drama terrível.[…] Mesmo ainda a acordar da dor, a população recebeu-me com um sorriso e revelando um extraordinário carinho. Agradeci a Deus por, de alguma forma, ter contribuído para que, momentaneamente, se esquecessem da tragédia. Ri com as pessoas, incentivei-as, acarinhei-as. E elas retribuíram com os olhos brilhantes de esperança no futuro e a quererem acompanhar-me para todos os locais que ia visitar, fosse a pé, de autocarro ou de moto. […]


[…] Foi aqui, também, que se deu o meu reencontro com Martunis, um menino indonésio de sete anos e de grande coragem, que sobreviveu sozinho ao Tsunami durante 19 dias. […]


[…] Passamos o dia juntos em Banda Aceh e, mais uma vez, senti-me atingido pelo seu olhar inocente, pela sua curiosidade, pela surpresa, pela admiração, sentimentos que não conseguiu esconder. Não posso imaginar, sequer, o sofrimento por que passou nos 19 dias em que vagueou, sozinho, sem saber notícias da família. […]


[…] Conversávamos por gestos e com a ajuda de uma tradutora. Mas ele é tão tímido que as palavras saíam-lhe a conta-gotas. Ele estava incrédulo a observar toda aquela agitação. Ofereci-lhe uma camisola. Também recebeu de presente um telemóvel. Pediu, imediatamente, o meu número e brincámos ali mesmo. Lado a lado, ligámos um para o outro e conversamos. Quer dizer, tentámos. Para ele tudo era novidade. Abri o meu computador e os olhos dele arregalaram-se muito, porque era a primeira vez que estava perante algo do género. Entusiasmou-se quando lhe mostrei algumas fotografias minhas e vídeos de jogos. O seu olhar brilhava com tanta novidade em tão pouco tempo. Quando a população local percebeu que estávamos juntos, então foi o delírio. Por causa dele. Ele é que era o herói e continua a sê-lo. Ele é que é um exemplo de coragem. Martunis é um menino que merece tudo de bom para a sua vida. E tenho a certeza de que vai ser uma criança feliz." […]

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